Em 2008, quando fiquei grávida da minha primeira filha, a Maria Eduarda, tinha só uma certeza, não queria passar por uma cesárea. Tinha medo, aflição do corte, afinal eram sete camadas a serem cortadas.
Comecei então a ler tudo que podia na internet sobre parto e a assistir milhares de vídeos, e foi assim que começou meu empoderamento materno.
Logo de cara me deparei com o “lado negro da força”, com as altas taxas de cesáreas desnecessárias do nosso Brasil e conheci a violência obstétrica, termo que nunca tinha ouvido falar na vida.
Se antes eu só queria fugir do corte e ter um parto normal, agora eu queria um parto natural e com certeza humanizado.
Fui atrás de uma equipe humanizada, pois percebi que cada vez mais ela é imprescindível para se conseguir parir com dignidade por aqui. Procurei uma GO que apoiasse de verdade o parto humanizado e conheci a maravilhosa profissão de doula (depois conto como acabei me tornando uma ).
Ah, uma parte importante disso tudo foi empoderar o marido, que para mim tinha que fazer parte dessa equipe. Passava todos os textos pra ele, sobre os benefícios do parto humanizado e levava ele em todos os cursos de gestantes que podia. Ele é um cara tímido, então muitas vezes ia “amarrado”, mas ia. Porque vontade de gravida não se discute, certo ?
Me preparei também fisicamente, fiz ginástica para gestantes, muitas cócoras e a maravilhosa bola suíça, que se tornou minha melhor amiga na hora do parto.
Com 28 semanas Maria Eduarda queria nascer, tinha contrações e meu colo estava afinando, repouso absoluto. Chatooooo!!! Ficava deitada 24h por dia, para tomar banho era sentada em um banquinho e bem rápido. Para mim que sou bem agitada foi dureza, então lia e mergulhava ainda mais nos textos sobre parto.
Funcionou, com 36 semanas fui liberada, com 36 semanas e 5 dias, dia 11 de agosto, meu aniversário, comecei a ter contrações ritmadas de 10 em 10 min, as 4h da tarde.
Estava bem calma, só falei para Maria Eduarda que ela ia ter que esperar para nascer no dia 12, pois dia 11 já era o meu dia rs. Liguei para a médica, para a doula, estava sem dor ainda. Fiquei em casa com o marido, ele fez um belo macarrão, o que foi ótimo para dar a energia que o parto exige.
Brinco que para parir você deve se preparar como que para uma maratona, o corpo, a mente e o espírito, porque na hora que o bicho pega o seu bebê e seu corpo exigem bastante de você.
As 22h as contrações estavam de 5min em 5min, pouco doloridas. Liguei para a médica que me disse : Quando estiver em trabalho de parto ativo você vai saber, tente dormir um pouco e me liga qualquer mudança.
E assim eu fui pra cama, no dia do meu aniversário sabendo que ganharia o melhor presente do mundo no dia seguinte.
As 4h da manha, claro que eu não tinha dormido nada, escuto uma bexiga estourar, PLOFT. O maluco era que a bichiga estourou DENTRO DE MIM. Fiquei imóvel, cutuquei meu marido que dormia placidamente do meu lado. “Amor a bolsa estourou”. Coitado, ele pulou da cama, parecia uma barata tonta pelo quarto. Liguei de novo pra GO, já não conseguia falar no telefone, porque quando a vinha a contração, tinha que me abaixar de dor, agora eu sabia, estava mesmo em trabalho de parto.
Chego no hospital, aparece a fofa de enfermeira e me coloca no odioso cardiotoco. Ele é um exame que é feito na admissão do parto, para ver a frequência cardíaca do bebe, mas a gestante tem que ficar 20 min deitada, e com contração!!!! Que coisa horrorosa, eu não parava de reclamar. E foi então que vivi “de leve” a violência obstétrica que tanto tinha lido, a enfermeira me fala : – Você que esta querendo parto normal ? Já vi que não vai aguentar nem meia hora, vai pedir pela cesárea com certeza. Falou assim, na minha cara, com um sorrisinho sarcástico. O que ela tinha a ver com as minhas escolhas gente???? Ai que ódio que eu fiquei na hora.
Quando a tortura inicial passou, encontro minha melhor amiga, a bola suíça. Sentei nela e não levantei mais até o expulsivo. E balança na bola, rebola na bola, quica na bola, bola e eu no chuveiro, respira… Marido e doula fazendo todas as massagens possíveis, beija o marido, xinga o marido, respira… Cócoras e mais cócoras, abraça a bola e o trabalho de parto evoluindo.
E que trabalho !!! Gente não dá pra ficar parada, se eu deitasse doía muito.
Quando de repente senti muita vontade de fazer cocô, muita mesmo rs. Estava indo pro banheiro e a Médica fala pra mim : – Não pro banheiro não, é a sua filha que está nascendo. Depois descobri que não era cocô, era a pressão que o bebê estava fazendo para passar pelo canal rs.
Fui andando para a sala de parto ( não existia sala de PPP nessa época), estava feliz, sabia que minha menina estava chegando.
Passei pela enfermeira, a mesma do sorrisinho sarcástico, e falei : – Quem que ia fazer cesárea mesmo ? Vou ali parir e já volto tá. Nunca mais vou esquecer dessa cena, eu tinha conseguido burlar o sistema, que teima em nos desencorajar!!!!!
Maria Eduarda nasceu, as 7h em ponto, Apgar 10 com duas circulares de cordão ( ela não impede que o bebê nasça, falaremos sobre esse mito de parto em outro post). Só nós três, eu o marido e a bebê fazendo o expulsivo, sem ninguém intervindo. A médica ali, só para não deixar a minha menina cair no chão, como deve ser.
Depois disso tudo minha vida mudou, fui apresentada a uma outra mulher, que habitava dentro de mim mas que eu não conhecia, que a cada contração ia se apresentando de forma avassaladora, dolorida, mas deslumbrabte. Essa nova mulher me deixou confusa, perdida, mas com muita vontade de me encontrar, e isso só foi acontecer 3 anos depois com o nascimento da minha segunda filha, Teodora. Mas essa história eu conto outro dia.